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Dia 26 – Cartuxa

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Este dia era para ser vazio, de pausa, sem nada a fazer. Mas acordou tão bonito que achei uma pena. Havia que encontrar algo e esse algo foi o Convento da Cartuxa, aqui às portas de Évora, como quem vai para Lisboa.

Já conhecia, mas apenas por fora. É um convento em funcionamento. Ou era, e será. O que se passa é que os quatro residentes da ordem dos Cartuxos envelheceram. Para o fim, o mais novo tinha mais de 80 anos. Precisavam de ajuda, de alguém que olhasse por eles, oferecesse o conforto e o cuidado que anciões dessa bonita idade merecem. E assim mudaram-se, foram acabar os seus dias para um outro convento da mesma ordem sito em Barcelona.

E aqui, um parêntisis para referir que o testemunho visual destes homens se encontra na epxosição fotográfica patente ao público neste momento na galeria de exposições da Fundação Eugénio de Almeida, junto ao Templo de Diana.

Convento da Cartuxa, fachada frontal, entrada

Portanto, idos os monges ficou o convento sem habitantes. Mas não por muito tempo, porque se espera que ainda este ano se mudem para lá um grupo de freiras de uma outra ordem. Neste momento decorrem obras de adaptação das instalações, e assim como assim, já que não se encontra habitado, a Fundação teve a feliz ideia de permitir visitas do público ao espaço anteriormente (e futuramente) reservado.

Chegámos rapidamente, na realidade até podiamos ir a pé, são menos de 2 km para cada lado, só que junto à estrada principal.

Umas meninas acabavam a visita e entrámos. Breve briefing. Visita livre mas limitada a 20 minutos. Estranho mas entendo, com a situação sanitária pretendem manter o espaço com pouca gente e também com pouca gente à espera. Até seria uma boa ideia para outros tempos. Ah, e a entrada é gratuita.

Vimos um claustro, com um jardim feito de sebes altas que criam corredores intransponíveis e uma fonte no centro. Logo ali se entende que o convento é um oásis de tranquilidade. O único ruido humano que se escuta é uma avionete tresmalhada que voa sobre a cidade.

À saída do jardim, seguindo as setas que limitam a visita, encontramos uma voluntária que alimenta um bando de gatos. Indica-nos o caminho. O passo seguinte é um exemplo das celas dos monges, celas luxuosas, autênticos apartamentos, austeros, claro, mas espaçosos e com diversos compartimentos.

Na saída perguntamos-lhe qualquer coisa e conversa puxa conversa, acabámos por ganhar uma visita guiada que detalhes muito interessantes nos revelou. Tivemos até direito a uma extensão dos vinte minutos, com a devida autorização e no final ficou a sensação de uma manhã muito bem passada.

No regresso a casa, foi relaxar, na vida calma e pausada que tem sido esta em Évora. Nem sempre, claro, mas maioritariamente.

Era fim-de-semana, calmaria. Mas um dia bonito e o primeiro fim-de-semana de regras de confinamento alargadas, com esplanadas a abrir pela tarde dentro.

Acabámos por sair para esticar as pernas. O ambiente nas ruas estava fabuloso. A cidade estava irreconhecível, parecia dia de festa.

Infelizmente, apesar da boa luz, estava um pouco fresco e soprava um vento desagradável. Por isso não fomos estrear a liberdade readquirida de sentar numa esplanada numa tarde de Sábado. Simplesmente caminhámos.

Passámos pelo Giraldo, onde a esplanada resistente tem agora a companhia de mais duas. Percorremos ruelas, certamente descobrindo novos recantos neste labirinto onde confundimos o visitado com o por visitar. A luz estava excelente para fotografia, estas ruas são lindas e inspiradoras.

Foi uma canseira agradável, voltámos já tarde, quase ao pôr-do-sol, e hoje tinha um jogo de futebol para ver. Numa partida de muitos nervos o Sporting conseguiu ganhar ao Nacional da Madeira, com o primeiro golo a surgir já para além do minuto 80 e um segundo, de penalty a fechar o jogo. Tudo está bem quando termina em bem.

Um dia bem passado.

Dia 25 – Amieira e Alqueva com o Lago a Seus Pés

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Na véspera tinha sido uma canseira. Aquela caminhada de quase 10 km em redor de Arroiolos foi um palmilhar louco, mas parece que mesmo assim não suficiente, porque para hoje tinha algo mais longo, a rondar os 15 km. E mais distante também, junto à albufeira do Alqueva, entre as aldeias da Amieira e de Alqueva.

Um detalhe: tratava-se de um percurso linear, por isso levámos dois carros. Aliás, um carro e uma auto-caravana, a do Zé e da Irene.

A partida estava marcada para as 10 horas. A ideia era irmos juntos mas o trânsito separou-nos ainda não tínhamos percorrido duzentos metros e acabámos por nos encontrar apenas na Amieira, no parque de estacionamento da praia fluvial.

Esta estava muito diferente do que seria esperado. Tendo sido inaugurada há apenas dois anos, a praia artificial não contou com a subida das águas e mais de metade do areal estava submerso. Bastante reduzido, o que se tornou evidente comparando o que se via com o plano que constava num cartaz existente no local.

Ali ficou a auto-caravana e fomos deixar o nosso carro a Alqueva, aldeia, onde depois de o parquear junto à igreja matriz e de um bocadinho ao sol na esplanada ali defronte se iniciou a caminhada.

Inicialmente fiquei um pouco desapontado. Olhando para o mapa e para o título do percurso, esperava um passeio sempre junto à lindissima albufeira da barragem, mas na realidade o estradão passa algo afastado da água.

A paisagem é mesmo assim agradável, especialmente nesta altura do ano, quando os campos estão cheios de flores.

Os quilómetros passavam e sucediam-se os campos de papoilas, estevas e, por vezes, com tantas flores diferentes que o que se via era um caleidoscópio de cor com contornos indefinidos… um mar de vermelho, lilás, amarelo, branco, azul.

Passou um ou outro carro, mas depois de chegarmos a um portão daqueles que se podem abrir e se devem deixar fechados o trânsito parou por completo o que melhorou a experiência.

Mais à frente fez-se um alto para descansar as pernas e confortar estômagos. Uma pausa bem vinda, especialmente pelas cadelitas pequenas do Zé e da Irene.

Passámos por uma quinta abadonada rodeada de vacas que, estando deitadas, se levantaram, curiosas, à nossa aproximação.

De seguida deveríamos encontrar uma anta pré-histórica, mas dela nem vestígios. Apenas as setas a indicarem a direcção. Estará também ela submersa neste ano de muita chuva e níveis elevados de água?

O passeio aproximava-se do fim. Entrámos na Amieira e aproveitámos para explorar um pouco as ruas desta agradável aldeia. Foi um gosto. Divertimo-nos com os pormenores, discutimos as técnicas de caiagem que ali ainda se usam, vimos as casas à venda e para alugar e dissemos olá às pessoas que por nós passaram.

Amieira

E de volta à praia e ao ponto de partida. Uma pausa para um lanchinho no interior da auto-caravana, com chá de menta e bolinhos. Depois, a minha primeira viagem, mesmo que curta, a bordo de uma viatura deste tipo. Para reencontrar o meu carro, em Alqueva.

Aqui, o Zé e a Irene afastaram-se, de regresso a Évora. Nós fomos nas calmas, num final de tarde tranquilo e muito bonito. Mas ainda parámos em Portel, uma localidade que muito me agrada e junto à qual passo tantas vezes sem me deter.

 

Portel à distância

Passámos devagar pelo centro histórico, observado as ruas e as casas tradicionais, e subimos para o alto de Santa Catarina, de onde se tem a melhor vista sobre a localidade. Ao estacional conhecemeos uma simpática cadela da raça Rafeiro Alentejano, que nos acompanhou na visita. O dono, que chegou uns segundos depois foi-nos avisando: “não faz mal nenhum, o único mal é ser tão dengosa e querer festinhas sem parar”. Era um senhor de ar distinto, o estereótipo de velho professor universitário, uma figura que fica na memória.

Subimos até ao alto, onde estão os moinhos e uma capela abandonada e pouco depois voltámos, para regressar por fim a Évora.

O Zé e a irene voltaram a aparecer em casa para jantar. Estive um bocado com eles mas passei tempo no covil, precisava de mais tempo a sós e hoje havia bom futebol para ver. Foi um serão bem passado.

Alto de Santa Catarina

 

Dia 24 – Entre Pontos e Colinas

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Numa fase especialmente social desta aventura em Évora estava combinada para hoje uma caminhada com o Zé e a Irene, vindos de Beja na sua autocaravana para nos visitarem aqui.

Foi acordar, sair para comprar um pão para a merenda, voltar a casa, preparar umas sandes e a mochila e sair. A hora combinada eram as 10:30 e depois do encontro, num parque de autocaravanas existente fora das muralhas, junto ao Hospital da Misericórdia, foi sair em direcção a Arraiolos, onde iríamos então fazer a caminhada.

São pouco mais de 20 km, que se fazem bem, por boa estrada. Entrámos dentro da localidade e encontrámos o ponto de início desta Pequena Rota (PR), organizada e mantida pela Câmara Municipal de Arraiolos, chamada de Entre Pontos e Colinas. Ao contrário do que é habitual não tem uma designação numérica.

Os detalhes da caminhada podem ser encontrados aqui, assim como ficheiros para GPS e para o Google Earth e um PDF oficial com informação.

Estava um pouco de frio e um vento algo agressivo, mas imaginei que depois de começar a andar a coisa iria melhorar e de facto assim foi.

O total da caminhada aproximou-se dos 10 km, um pouco mais do que o indicado na ficha técnica, já que por alguma razão estranha o percurso não é circular mas é como se fosse… o caminhante só tem que o completar.

Foi simples, sem incidentes mas com alguns pontos bem interessantes. O primeiro foi um antigo lavadouro, que fomos encontrar pouco tempo depois de iniciarmos a caminhada. Depois passámos junto a superfícies de água, campos floridos. Vimos cavalos e a bonita paisagem alentejana, marcada pela planura e pela presença dos azinheiros.

Parte do passeio faz-se sobre a rota de uma antiga ferrovia, o ramal de Mora, que ligava Évora aquela vila do Alto Alentejo. Há muito que os carris e os travessões foram retirados, e agora é usada para passeios pela natureza. Ainda se encontram vestígios da anterior utilização. Há sinais ferroviários e encontrei alguns dos parafusos gigantes que mantinham as coisas no lugar. Trouxe comigo. Penso fazer algum elemento decorativo com eles, mas ainda não sei bem o quê.

Fez-se uma pausa junto ao um bebedouro para animais, depois de passarmos pela antiga estação de comboios de Arraiolos, hoje um lugar fantasma, encerrado, abandonado, que oferece boas fotografias.

Já a chegar a Ilhas, perto de Arraiolos, passámos junto a uma quinta onde dois simpáticos burritos observavam a nossa passagem. Nunca os tinha visto assim, cabeludos, peludos.

Já na localidade passamos junto à igreja, relativamente moderna, datada de 1973, explorando um pouco as ruas da aldeia, castiça, muito genuína, dotada com uma escola primária agora adoptada pela associação local de caçadores.

De volta a Arraiolos resta chegar ao carro e iniciar o regresso a Évora.

Deixamos o Zé e a Irene na sua autocaravana, com o jantar combinado para a nossa casa mais tarde.

Não houve muito tempo. Relaxei um pouco, dedicado aos meus etreténs do costume e logo lá estavam eles. Supostamente o jantar seria a sopa de grão que tinham preparado, mas fui pondo coisas na mesa… pão alentejano, queijos, presunto, azeitonas, bolachinhas de chocolate e para culminar doses de gelado… e nisto a sopa ficou adiada, para o dia seguinte.

Foi um serão agradável, diferente, social.

 

Dia 23 – Gustavo

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Este era para ser um dia em grande, tinha tudo para o ser. O meu amigo Gustavo vinha de Lisboa para passarmos o dia a explorar a região e a encontrarmos geocaches juntos. Estava tudo combinado, combinadissimo, por alto desde há semanas e com todos os detalhes acertados na véspera.

Por volta das dez teria início a passeata. Acordei um pouco mais cedo para ir à padaria comprar o pão para as sandes do piquenique delineado. Preparei duas com muito carinho, cheias de coisas boas, humus, queijo fresco, pepino, presunto, chourição, rúcula e outras delícias naturais. Adicionei uma garrafinha de sumo, pus tudo num saco. Preparado para a aventura.

O Gustavo chegou, já não o via há uns meses, é sempre uma alegria. E lá fomos, pelo Alentejo. Quilómetros rodados no seu carro mais ou menos novo, que ainda não tinha experimentado, em direcção a Estremoz.

A bem da verdade nem sei por onde andámos. Estradões de terra batida, antas e outros lugares resguardados. Cache encontrada, cache não encontrada. Mais quilómetros. Junto às muralhas de Estremoz para logo deixar a cidade para trás. E mais recantos desconhecidos.

Até que a festa acabou abruptamente. Chegou a chuva. Mais uma vez, neste Abril de águas mil. Lembro-me exactamente do momento em que atacou. Tínhamos deixado o carro junto a uma bonita igreja rural, encontrado a cache que ali existia e depois decidimos caminhar até uma outra que aparecia no mapa a uns 300 metros de distância.

Por essa altura já fitava a ameaçadora nuvem negra no céu, mas parecia-me que mesmo que estivesse disposta a largar a sua carga sobre nós, haveria tempo para ir e vir.

Estava enganado. Atravessámos um regato, encontrámos a fonte que vinhamos ver mas não a cache que era mesmo ao que vinhamos. E quando regressávamos ao carro começou um inferno. Uma molha monumental. Afinal já tinha percebido que a chuva aqui é tropical, mas ainda não a tinha experimentado no pelo. Foi hoje. E deu para mim e para o Gustavo.

Ainda tentámos a sorte mais algumas vezes, mas de cada vez que nos aproximavamos do ponto de paragem, parecia que alguém lá em cima jogava baldes de água sobre nós. Como se de um jogo do gato e do rato se tratasse. Até que percebemos que não haveria nada a fazer e encarámos a realidade: havia que desistir.

De volta a Évora, o Gustavo deixou-nos em casa e partiu para Lisboa. O resto do dia fiquei um pouco amuado. Apesar da chuva ter parado pouco depois já não saí de casa. E até não se esteve mal. Nota para o excelente jogo de futebol que me preencheu o serão. Paris Saint Germain 1 Manchester City 2.

Dia 22 – RIP e SHE

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A maior parte do dia foi passada em casa. Sem história. A culpa, mais uma vez, foi do tempo. Maldito Abril, que já chateia, com as suas águas mil, e quando não as são, é o céu, escuro, desagradável.

Não vou repetir como se passa o meu tempo nesta casa. As mesmas rotinas, de que não me queixo. Ainda não cessaram de me dar prazer. Talvez nunca cessem, até porque me sinto muito bem nesta casa.

Seja como for, um dia inteiro de reclusão seria demais, por isso a meio da tarde, com o clarear do céu, saímos para dar a volta às muralhas. Não é uma volta pequena, são cerca de 5 km, que no caso aumentaram ainda mais porque fizemos um pequeno desvio para visitar o cemitério de Évora.

Antes, porém, uma paragem na Farmácia Central, uma a simpática e competente farmacêutica me vendeu uns comprimidos para ajudar a tratar da tendinite que nestes dias me atormenta o pulso. Vinte e quatro horas depois, quando escrevo estas linhas, estou infinitamente melhor. Boa!

As muralhas estavam como de costume. Antigas e com pessoas que por ali passam, seja nas suas andanças quotidianas seja na sua práctica desportiva.

Logo atravessámos a rua para entrar no cemitério. Tinha um bom pressentimento sobre este cemitério, feito de espreitadelas furtivas dadas nas vezes que passei ali à porta. E confirmou-se, de tal forma que ficou tomada a nota mental para regressar e certamente descobrir outros pormenores.


Apenas uma ou outra pessoa no interior do recinto. Campas antigas, algumas modernas. E umas quantas já com quase duzentos anos. Muitos detalhes, alguma cor a contrastar com o branco característicos dos cemitérios portugueses. E uma particularidade: um mar de flores de plástico, como nunca vi.

Encontrei o talhão dos antigos combatentes e um outro dos bombeiros.

Consegui uma boa série de fotografias com algum interesse. Certamente valeu a pena e ficaram perspectivas para experimentar e detalhes para descobrir. Num outro dia.

O passeio seguiu o seu curso, com alguns improvisos. Não foi a volta rigorosa às muralhas, já que mais à frente fizemos uma incursão a um bairro de vivendas que fica por detrás dos blocos que me fazem lembrar a minha Alvalade, também ele com algumas semelhanças com o bairro de Lisboa.

Entrámos na ecopista, encontrámos uma cache e passámos junto ao Pingo Doce, terminando calmamente o périplo entrando pela porta de Avis. Tudo junto foram 6,2 km. Um belo passeio.

Ao chegar a casa tinha um e-mail da Sociedade Harmonia Eborense. Para aderir como sócio só teria de passar por lá. Perfeito. Já lá vamos. Agora descansar um pouco.

Escadaria interior do edifício da Sociedade

E depois, sim, rumo ao Giraldo para visitar a Sociedade, onde há nove anos tanto me diverti numa noite de arromba. Na entrada o simpático João tratou de tudo e já que ali estávamos aproveitámos para subir, rever aquele espaço icónico, tão atmosférico, e beber uma cerveja na esplanada, lá em cima, no terraço.

Soube muitíssimo bem e foi com um enorme sorriso e boa disposição que regressei a casa, saboreando o passeio.

 

 

Dia 21 – Nomadland

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Este foi dos dias de mais tristeza metereológica que aqui vivi nesta estadia de Primavera. 2021 tem sido um ano de verdadeiro Abril águas Mil. Perante isto, não ha nada a dizer. Em casa, enquanto lá fora chove.

Apenas uma coisa a destacar, e uma coisa com alguma relevância: quase dois anos depois o regresso a uma sala de cinema. Combinava tudo: a cerimónia da entrega dos Oscars foi nesta madrugada e o filme grande vencedor da edição de 2021 estava em exibição aqui em Évora. Nomadland.

Aproveitei para um banho de civilização urbana no shopping. Uma hora para passear e esquadrinhar livros e tecnologia na FNAC. Aproveitei para comprar umas coisinhas na Worten, uns elementos de domótica para experimentar, uma lâmpada e uma tomada que se programam e controlam remotamente. E, por fim, algumas compras de bens alimentares no Auchan, antes da sessão das 16:50 na sala 2.

O filme foi excelente e fico a pensar que é bom fazerem parte do passado os dias em que porcaria como o Titanic ganhavam o prémio. Por agora vou voltar a ter respeito pelos prémios Oscar.

Aqui há uma geocache

Durante toda a tarde choveu com brutalidade, por vezes com trovoada forte. Mas quando o filme terminou já o pior tinha passado. Ainda fizemos uma cache nas imediações, junto à estrada, que me fez recordar o principal encanto deste jogo: mostrar-me detalhes e recantos que provavelmente nunca notaria sem ajuda.

Mais tarde, ao cair da noite, um pequeno passeio, só porque de facto é uma hora muito agradável para andar por ai, com o ar limpo depois da chuva, as ruas desertas e a luz que se mistura, entre o morrer dos raios solares e o acender da iluminação pública.

Ao serão, ver futebol e assistir ao empolgante final do jogo entre o Moreirense e o Porto.

 

Dia 20 – Dia do Senhor

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E é isto. A rotina instalou-se. Não de forma obrigatória, como uma condenação a uma pena que se repetirá todos os dias, mas há agora espaço para dias como este, em que nada acontece, passado em casa, sem novidades ou aventuras a contar.

O tempo também não ajuda, estes dias que se sucedem escuros, nos quais uma nesga de céu azul é uma notabilidade. Apetece ficar em casa, repetir os passeios apenas para esticar os músculos.

E foi assim que entre as rotinas de sempre se passaram as horas deste Domingo, dia do Senhor. Ler. Ler. Jogar xadrez. Chove. Ver o último episódio de 3 Caminos. Ler. Chove mais. Comer. Ler. Preparar um chá. Jogar xadrez. Preguiçar. Um pouco de futebol na TV. Jogar xadrez. Note-se a falta de Fortenite aqui. Está suspenso até novas ordens. Certificadamente o causador de uma tendinite no pulso direito. Investigo o assunto e desubro uma série de exercícios para melhorar a situação. Num dia de modorra tiro um curso intensivo de fisioterapia e de ortopedia localizada nas maleitas do punho.

Ao fim da tarde a chuva tinha parado e via-se uma luz interessante lá fora. Altura para o passeio do dia. Cumprir os serviços mínimos.

Está de facto fantástico. Depois de mais um dilúvio tropical o ar está limpo, perfumado pelas muitas laranjeiras que se encontram em pátios e jardins. A cidade está calma. É como se dormisse já apesar de estarmos a chegar agora à hora de jantar. Um muito agradável passeio que antecede um serão de volta das mesmas rotinas.

Dia 19 – Sábado

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É Sábado em Évora, e Sábado é um dia especial. Quanto mais não seja porque é dia de mercado de frutas e vegetais, um mercado que me agrada mas que mesmo assim poderia ser mais perfeito.

Sou grande entusiasta deste tipo de eventos, procuro sempre um mercado quando viajo, mas a minha grande referência é o mercado do Carmo, em Faro, o meu posuo costumeiro de Domingos de manhã. E por comparação o que vejo eu, quando aqui venho, ao Campo Primeiro de Maio em Évora?

Os vendedores e produtos são um pouco mais genuínos, aparentemente vendendo apenas a sua produção e com um perfume a lavra que em Faro não se tem. Pelo menos nesta intensidade. Por lá vê-se que algumas coisas virão do Mercado Abastecedor, há mais variedade. Aqui, se é época das favas há favas por todo o lado e pouco mais. A escolha é mais limitada mas fica a ideia que de melhor qualidade. Quanto a preços diria que as coisas andam mais ou menos pelo mesmo.

Pela negativa, o ambiente mortiço, com poucos vendedores e também poucos fregueses. Pode ser que seja devido à época especial que vivemos, o que não é grande consolo porque começo a estar convicto que indo-se a emergência sanitária ficará a sensação de emergência sanitária nas pessoas.

Seja como for, será uma actividade “obrigatória” para mim aos Sábados de manhã. É um passeio agradável, até lá, depois as compras. Hoje não trouxe muita coisa. Morangos, comprados a uma jovem simpática e faladora de olhos claros. E um ramo de hortelã, vindo do mesmo lavrador que a semana passada me vendeu uma porção semelhante, enorme, por cinquenta cêntimos. Chá à marroquino assegurado para os próximos dias. Yummy.

Terminada a volta do mercado, passamos pelo Giraldo. A ideia é comprar um mapa da cidade que vimos na loja de revistas de onde trouxe os jornais esta semana. Lá estava e comigo veio. Mas quero tirar uma fotocópia do centro da cidade, ampliada. A livraria no Giraldo que poderia tratar disso, recusa-se, dizendo que têm instruções para não replicar nada que exista à venda na loja, como é o caso deste mapa. OK, pergunto eu à senhora, e será contra as instruções indicar-me onde o posso fazer? Ela ri-se, diz que não, não é contra as ordens que tem, e lá me diz… ironicamente mesmo de onde tinha acabado de vir, no edifício do mercado, de lado.

Lá voltamos para trás e trato do que preciso com sucesso. Mais sucesso ainda, porque compro mapas antigos da cidade, para emoldurar, por um preço loucamente baixo, practicamente oferecidos. Até trago um para os anfitriões.

O regresso a casa é estendido. Damos quase uma volta à cidade. Descubro o núcleo do Sporting de Évora, tomo nota mental. E um recanto mágico onde se fosse milionário compraria uma casinha a qualquer preço que fosse.

Um cantinho mágico de Évora

É um pedacinho de cidade que remete para outros tempos. Tirando a antena parabólica e a de televisão, se estivessemos em 1940 provavelmente seria rigorosamente igual. Que sossego, que ambiente bucólico!

O passeio prossegue. Vamos à rua onde a casa que trazemos agora debaixo de olho se encontra. Gosto do ambiente em redor, na rua do Machede, por ser muito local. Mas nem tudo é perfeito. A casa é escura, de áreas relativamente modestas, o terraço sem uma vista digna de nome, o barulho que (apesar de não se ouvir no interior) vem da rua principal. Oh indecisão, atroz indecisão!

Voltamos para casa. Preparo algo para comer: os morangos que trouxe do mercado, e que acabam por ser uma decepção. Têm sabores estranhos. Paciência. Valeram pelo perfume a morango. Já o copinho de Porta da Ravessa está delicioso. E fico no terraço um bocadinho a ler. Não muito, porque o vento intensifica-se e sopra-me a mensagem clara: está na hora de ir para baixo.

A tarde foi passada em casa. Ou parte dela. Às quatro horas havia que ver a casa por dentro, e lá estávamos para encontrar o Sr. Carlos que nos abriu as portas de três dos quatro quartos. Não vou dizer que foi decepcionante porque já era esperado, mas de facto são quartos minúsculos e de certa forma com pouca luz. Agora é continuar a matutar e tentar lidar com a indecisão.

Como sempre o regresso a casa não foi linear. Mais um passeio errático com uma passagem pelo Giraldo onde um grupo de quatro músicos tocava Grândola Vila Morena com instrumentos de sopro. Uma actuação rápida, a durar uns segundos, antes de partirem para outras partes.

Em casa, nas entretengas do costume. Até ao serão. Este é o dia em que saímos para sentir a cidade à noite. Ver se há muito barulho nas ruas e onde. Passar pela casa, outra vez, quem sabe haja estudantes a falar alto lá defronte, há que investigar.

Mas não se passa nada. Tudo tranquilo, é uma Évora deserta que vemos. Uma família passa, barulhenta. Um casal aqui, um par de estudantes que se movimenta acolá. Foi um passeio de quase quatro quilómetros pelo centro histórico. Soube bem.

Dias 18 – A casa que já era

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Não era da ERA mas foi como se fosse. Já era. Descoberta ontem e vendida ainda ontem, segundo o agente imobiliário. Ora bolas, decepcionante. Não era perfeita, senão a frustração seria mais acentuada mas mesmo assim era uma clara candidata. Aqui mesmo ao lado, numa zona da cidade de que gostamos. Com um terraço magnífico. Mas um interior sofrível e a suspeito de demasiado ruído a passar na rua. Pronto, está o assunto arrumado.

O dia acordou cinzento. Penso que não chegou a chover mas durante toda a manhã a ameaça esteve lá. Portanto, ficar em casa. Nas coisas do costume, que até já tenho vergonha de repetir. É ler, e com isto foi acabado o livro de Isabel Allende que me tem deixado entretido nestes dias. E jogar, xadrez e Fortenite. A casa precisa de uma limpeza e arrumação mas hoje não foi o dia, arrastado, nestas coisas.

Já há uns dias que não usava uma foto do Templo de Diana

Foi já depois do almoço que saímos para fazer umas compras, ao Lidl. Nada de especial, uma saída de rotina para logo voltar. Mais descanso e boa vida.

Final da tarde, um passeio mais extenso, a passar pela casa que vimos ontem de manhã. Tenho sentimentos contraditórios sobre aquela parte da cidade. Mais local e castiça, com cafezinhos e supermercados genuinamente de bairro, um bairro onde mesmo com o turismo a bombar não imagino muitos estrangeiros para além daqueles que se dirigirão do Colégio do Espírito Santo, no final da rua do prédio. Mas por outro lado falta-te a monumentalidade destas paragens, daqui onde estou a ficar… não há muralhas daquele lado, nem aqueduto. Veremos.

Foi um bom passeio, numa tarde que se tornou agradável com o passar do tempo. Nada de chuva, bem pelo contrário, foi aparecendo cada vez mais azul no céu. E na rua está uma temperatura mais agradável do que em casa.

Fomos também ao Pingo Doce. Queria comprar umas garrafas de vinho Porta da Ravessa. Agora que sei que é daqui parece que me sabe melhor.

Regressando a casa passámos no largo do Cantinho da Tété e foi impossível resistir. Lá se ficou um bom bocado, o suficiente para despachar duas imperiais, numa esplanada com um ambiente fabuloso, muito local e ao mesmo tempo sereno. O que será que vai resultar das obras que têm estado a decorrer onde antes havia um simpático restaurante? É mesmo ali na porta ao lado, espero que não se estrague o largo.

Com isto já se fazia tarde. Agora queria comprar o Expresso, mas não imaginava que já passando das sete horas ainda fosse encontrar as papelarias abertas. Estavam e desta vez fui à que me interessava, por parecer uma loja tão tradicional, ali junto ao Giraldo.

E foi uma experiência memorável, com o senhor a fazer-me uma tour completa a todas as revistas que me poderiam interessar. Nada escapou, de história, geopolitica e viagens, em inglês, francês e espanhol, e saí de lá com o Expresso e com o Novo Semanário, que saiu hoje para as bancas pela primeira vez. Há que experimentar.

Não se passou mais nada digno de registo neste dia. Um serão um bocado morno como têm sido por aqui. Devo trabalhar para mudar isso. Além de mais agora há cultura a acontecer. Descobri algumas fontes de informação, agendas culturais, que parecem prometedoras.

Ah, ia esquecendo… estive a ler sobre a Sociedade Harmonia Eborense, onde há uns anos passei uma noite de festa memorável. Esteve para fechar, fez uma bem sucedida campanha de fund raising e está de volta, agora que se podem tornar a organizar espectáculos e eventos. Quero ser sócio.

Dias 17 – Casas

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Depois do regresso a Évora e de mais uma noite bem dormida, um dia relaxado. Um avanço considerável no livro de Isabel Allende que tenho entre mãos, o maravilhoso A Long Petal of the Sea, que conseguiu algo único depois de quarenta e cinco anos a ler: fazer-me rolar uma lágrima. Isto mais para a tarde, no terraço, onde sentia na pele a terna carícia de um sol tímido de primavera.

Mas o destaque do dia, apesar da surpresa da lágrima, foi a descoberta de duas casas com potencial para aquisição. Uma, fomos ver, lá do outro lado de Évora, numa rua sossegada sem trânsito. Está alugada a estudantes e o terraço existente não é grande coisa em termos de vista e espaço, mas cumpre com a lista de exigências. Três quartos e uma sala, preço, localização tranquila. Sábado voltaremos para espreitar os quartos que for possível, se surgir a oportunidade.

A outra é aqui, literalmente ao alcance da mão. Na rua do Cano, a 30 metros de mim (imagem de topo, casa do lado direito, primeiro andar). Mas estou a pressentir dificuldades, com os proprietários, com o agente que é difícil de contactar, que à primeira não cumpre o que é combinado… vamos ver. Mais cara que a outra mas numa localização de sonho e sendo um imóvel mais bonito com uma vista soberba do terraço.

Da visita passámos pelo Cantinho da Tété, mas não ficámos. Mais tarde faríamos um pouco de esplanada no Jardim do Templo de Diana, e esteve-se muito bem, no ambiente já costumeiro, bem preenchido de gente calma. O funcionário já me conhece e é sempre engraçado quando acontece. Pedi a minha água das pedras com um pouco de limão mas disse gelo por engano. “Então hoje não quer com limão?”. Foi engraçado, fez-me rir.

Não se passou muito mais. A pastelaria Violeta reabriu. Uma perdição. Já me fui aos cones de chocolate. E depois veio a encomenda do Too Good to Go da padaria e mais bolos. Já ganhei 3 quilos desde que cheguei a Évora. Tenho que começar a apertar a dieta.

Resto do tempo por casa. Jogar xadrez, ler, ver futebol. Jogar Fortenite. Um prato que se repete, que fazer, é o que me chama nestes dias.

E quanto ao Doug, o inquilino norte-americano de Faro, bem que podia ter vindo ontem, porque o dia esteve uma maravilha para explorar a cidade. A previsão para o que se segue é que é pouco brilhante. Vamos ver, pode ser que haja uma revolução nesta malfadada previsão.